Assim como todos os demais reservatórios sertanejos, o Riacho do Pau, que abastece a cidade de Arcoverde, não fica de fora da triste situação da estiagem que assola a região, a maior dos últimos 50 anos. Durante as últimas semanas, o
jornalista Magno Martins, percorreu o Agreste, Sertão e a Zona da Mata de
Pernambuco mostrando o flagelo da seca e o castigo que a grande estiagem causa
em animais e pessoas. Cenas fortes de dezenas de animais mortos pelas estradas
e fazendas.
Pessoas com latas de água na cabeça,
barragens completamente secas, homens, mulheres e crianças brigando por um
balde de água em meio a chegada dos carros pipas. Cidades inteiras sem uma gota
de água nas torneiras. O desperdício de água e de dinheiro público em obra sem
fim.
Filme que Arcoverde viu pela última vez em 2003,
quando o açude do Riacho do Pau entrou em colapso e a população ficou a mercê
dos pipas oficiais e particulares. Pois esse filme está perto de acontecer de
novo, caso não se confirmem as previsões de chuvas para janeiro e fevereiro de
2013. O açude hoje está com cerca de 30% de
sua capacidade, cerca de 5 milhões de m², se não estiver com menos pois,
segundo informações do IBGE, o Riacho do Pau estaria hoje com 20% de sua
capacidade. A foto abaixo mostra o quadro atual do reservatório. A régua de
medição está cerca de 6 metros abaixo do nível total.
No caminho até o açude, a caatinga
cinzenta e queimada é um cenário pra lá de conhecido do sertanejo, mas quando
nos aproximamos do reservatório descobre-se que estamos em um verdadeiro "oásis",
ou pode-se mesmo pensar que se está no perímetro irrigado de Petrolina, aonde o
velho Chico, mesmo cansado, ainda escorre muitas águas pelas suas veias
Nordeste à dentro.
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Canos cortam as plantações levando
água do Riacho do Pau |
A beira de Arcoverde entrar em
colapso com seu abastecimento, aonde moradores de bairros mais afastados estão há mais de 4 ou mesmo 6 meses sem ver água nas torneiras, é possível ver que agricultores e produtores
rurais de outros municípios transformaram as margens e arredores do Riacho do
Pau na nova fronteira agrícola da seca regional. Motobombas trabalham de dia,
mais ainda à noite, sob o manto da escuridão e o sono das autoridades, sugando
a pouca água do açude do Riacho do Pau para irrigar plantações de tomate,
pimentão, maracujá e até de capim para o pasto. Abaixo (foto), em plena manhã,
a poucos metros da estação de controle da Compesa, 04 motobombas puxavam água
do açude para irrigar uma plantação de capim na área conhecida como Riacho do
Pau. Regadores e mangueiras grossas se encarregavam de espalhar a água que
falta para os moradores de Arcoverde em meio à pastagem de capim. E como
pode-se ver nas fotos, as bombas não estavam escondidas, muito pelo contrário,
bem visíveis e, segundo informações, pertenceriam a fazenda da família de um político da cidade da Pedra.
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Trabalhador rural irriga com mangueira plantação de capim às margens do açude |
Na outra ponta, na região conhecida
como Caldeirão, a coisa não é diferente. Durante a reportagem foi possível
registrar uma motobomba funcionando no mesmo momento em que as outras 4 atuavam
do lado oposto. Ela levava água para irrigar as plantações de tomates,
maracujás e pimentão. De acordo com informações de moradores, o plantio
pertenceria a produtores de outras cidades que arrendaram as terras,
contrataram os próprios moradores e sugam a água que falta para o povo de
Arcoverde, sem pagar nada e desafiando as autoridades. Diariamente, às 7h, caminhões chegam a área trazendo os trabalhadores rurais e saem de volta à cidade por volta das 17h.
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motobombas retiram água do açude para irrigar capim e tomates |
Ao longo da estrada é possível ver os
canos que fazem o transporte da água do açude para as lavouras. A água chega a
empoçar nas estradas em plena seca braba, aonde muitas famílias próximas não
tem um pingo de água em suas barragens e até mesmo em suas cisternas. Ao olhar
ao redor das plantações, há perder de vista não se vê nenhuma outra fonte de
água que não seja o açude do Riacho do Pau.
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Nas proximidades da Compesa, uma rede de canos distribuem
água para vários pontos da localidade. |
Enquanto Arcoverde e sua população
ficam a mercê de semanas sem água, meses e até ameaçada de um colapso total em
seu abastecimento, água do único reservatório
que abastece a cidade é retirada indiscriminadamente. Água retida para o consumo humano e não para irrigação. Em uma das fotos é possível ver canos iguais aos que servem para irrigar este
“oásis” de alguns poucos, pendurados na área da estação de controle da
própria Compesa. Uma verdadeira teia de canos e irresponsabilidade com a vida
de mais de 70 mil habitantes que dependem daquele reservatório percorrem as áreas próximas a sede da estação da companhia de águas de Pernambuco.
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Terreno arado pronto para o plantio
às margens do açude |
Ainda achando pouco o que já vem
sendo utilizado, ao longo da estrada e à beira do açude do Riacho do Pau, é
possível ver várias áreas de terras preparadas para o plantio. Resta saber até
quando permanecerá a “fronteira agrícola” debaixo dos olhos das autoridades. O Riacho do Pau está secando, de um lado pelo consumo da cidade, seu único objetivo, do outro pelo forte calor e pela retirada indiscriminada de sua água por motobombas dia e noite para beneficiar somente alguns poucos em detrimento da necessidade de 70 mil habitantes de Arcoverde.
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Canos levando água para plantio na área do Caldeirão |
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Um oásis verde em meio a caatinga seca às margens do
açude Riacho do Pau |
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Canos colocados embaixo da terra nas passagens
entre os plantios |
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