Em mais uma matéria sobre o São João de Arcoverde, a repórter Katherine Coutinho, do Portal G1, destaca a força do samba de coco nas festas junina da capital do Sertão. Confira abaixo:
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Arcoverde, no Sertão de PE, ritmo oficial do São João é o coco
Ritmo é dado pelo surdo, triângulo, pandeiro, ganzá e tamancos de madeira.
Katherine CoutinhoDo G1 PE
Ritmo é dado pelo surdo, triângulo, pandeiro, ganzá e tamancos de madeira.
Katherine CoutinhoDo G1 PE
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Netos de seu Ciço e dona Maria José dançam coco
Apesar do posto de ritmo oficial que o forró ocupa no São João de Pernambuco, também há espaço para outros ritmos. Por exemplo, em Arcoverde, no Sertão, quem reina é o coco - tanto que o ritmo ganhou um polo próprio, no bairro do Cruzeiro.
Nem sempre o coco foi tão valorizado como é agora, como se lembra o mestre Cícero Gomes, do Coco Trupé, que canta desde os quinze anos. "Eu nasci no coco, brinco desde os oito anos, mas na década de 60 e 70, eramos meio discriminados. Só brincávamos no São João e olhe lá, hoje podemos tocar durante o ano, fazer festa e até tocar no palco principal", conta, orgulhoso, Cícero.
As apresentações antigamente aconteciam em cima de caminhões, os grupos de coco, em especial com Ivo Lopes. "Sempre teve coco no São João daqui, só que acabou meio esquecido depois da morte do mestre Ivo. Foi em 1992 que meu tio, Lula Calixto, começou a ensinar a dança nas escolas", lembra Iran Calixto, tesoureira e vocalista do Coco Raízes de Arvcoverde.
O ritmo é dado pelo surdo, triângulo, pandeiro, ganzá e os tamancos de madeira, que batem no chão durante a dança, dando o som que só o coco do Sertão tem. "A origem do coco do litoral é a mesma da nossa, o que é diferente é que nossa pegada é mais firme", explica Cícero. "A dança e a batida são diferentes, o ritmo é um pouco mais rápido", diz Iran.
Outro ponto do coco, ou samba de coco, é o figurino. "A roupa é simples e tem que ter babado nos vestidos, nada de colocar bico. O vestido tradicional do coco é com babado e a roupa dos rapazes é uma camisa estampada, a calça pode ser lisa", avisa Maria José de Souza, que já cuidou das roupas do Coco Raízes de Arcoverde, mas atualmente é a figurinista oficial do grupo de coco do marido, o Trupé.
Coco Raízes
Com sede no bairro do Cruzeiro, o Coco Raízes de Arcoverde foi fundado em 1992, por Lula Calixto. "Meu tio quis resgatar a história da gente, a tradição do coco e reuniu as famílias Calixto, Lopes e Gomes para trazer a brincadeira de volta", conta Iran.
As músicas do grupo são quase todas compostas por Francisco de Assis Calixto, o mestre Assis, que assumiu o posto depois que o irmão Lula faleceu, em 1999. "Foi uma grande perda, mas a gente continuou e eu passei a compor. Gosto de escrever sobre o cotidiano, a natureza, os passarinhos", explica Assis.
O grupo já viajou em o mundo, tendo feito turnê na Europa entre 2005 e 2006. Em uma dessas oportundiades, o bateirista americano Andrew Scott Potter conheceu o grupo e acabou gravando uma das músicas do Raízes, chamada 'O balanço da canoa'. "Ele gostou tanto que até pagou os custos do nosso segundo CD", diz orgulhoso.
A convivência com o grupo é o que Assis mais gosta e o que o faz continuar lutando pela cultura. "Se a gente deixar de lado, vai acabar morrendo. Não podemos deixar", defende Assis. Iran lembra ainda que existem outros grupos na cidade, um deles, inclusive, dissidência do Raízes, o Trupé. "São pensamentos e sentimentos diferentes que fizeram a gente se separar, mas todos temos espaço e lutamos para preservar a cultura, que é o mais importante", acredita Iran.
Coco Trupé
Coco Trupé (Foto: Katherine Coutinho/G1 PE)
No bairro de São Miguel, Cícero Gomes encontrou seu caminho de volta para a música. "Quando eu canto, me sinto no céu. Quando saí do Raízes, me senti perdido, como desempregado. Eu tinha duas paixões na vida, ser motorista e cantar coco. Não sou mais motorista, mas só paro de cantar quando morrer", conta Cícero.
Com os quatro netos dançando, filha e esposa cantando, Cícero se sente realizado. "Antigamente, a gente cantava de 18h até o dia seguinte, sem parar. O bater dos tamancos no chão fazia a poeira subir, mas ninguém queria saber de parar", recorda. Romântico assumido, ele prefere escrever sobre amor, saudade e temas que toquem as pessoas. "Gosto de emocionar", define.
Sertanejo orgulhoso de sua terra, Cícero é um dos que defende as tradições de Arcoverde com afinco. "Aqui é a terra do coco, embora também tenha espaço para o pé-de-serra", explica o mestre, que tem na esposa outra defensora da cultura. Maria José não só faz o figurino, mas mantém a ordem no grupo. Apaixonada pelo São João, ela mesma costura o figurino especial para o dia 23. "Para a gente, o Natal é o São João. Tem que por roupa nova, estar arrumado. Pode passar o ano todinho, mas tenho de estar de figurino novo no São João", diz Maria José.
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